O jogador de futebol não é uma máquina programável capaz de escolher a solução óptima, a opção correcta numa velocidade robótica. Antes de mais ele é um Homem, que como todos os outros é feito de virtudes e defeitos, de sentimentos e de emoções. Porque não é uma máquina, tornou-se comum os clubes de uma certa dimensão rodearem-se de psicólogos do desporto capazes de auxiliarem o atleta a superar uma série de problemas, hoje em dia muito comuns na profissão de futebolista, sejam a ansiedade, o stress, a incapacidade de lidar com o sucesso ou os problemas resultantes do facto de serem em muitos casos principescamente pagos e não saberem conviver da melhor forma com essa realidade. Também no treino de jovens atletas a figura do psicólogo tem o seu lugar nos clubes ou escolas de nomeada, apoiando os jovens na construção de uma personalidade, na superação de dificuldades escolares e outros problemas do crescimento harmonioso e saudável. O problema põe-se relativamente ao grosso número daqueles que não tendo no seu seio esta figura, muito menos técnicos competentes e bem formados, capazes de compreender, apoiar incondicionalmente e motivar os jovens atletas, prestam um mau serviço ao desporto, diria mais, correm o sério risco de traumatizar de forma irreversível os jovens, quando usam de linguagem imprópria, senão mesmo o palavrão ou a violência física como prática mais ou menos comum. Não raras vezes presenciei episódios deste tipo, nomeadamente em competição e não menos vezes me interroguei sobre o efeito perverso desta prática na formação moral dos jovens. Numa época em que a violência paira no desporto e fora dele como um virús, como uma praga sem solução à vista, é urgente inverter a ordem das coisas. Os jovens serão sempre o garante de um futuro melhor se neles depositarmos a confiança e os instrumentos capazes de lhes garantirem autonomia, formação pela autonomia e em liberdade. Não uma liberdade que se construa na arbitrariedade, mas uma liberdade responsável Aos pais compete uma fatia importante desta responsabilidade. Na escola e fora dela, no desporto e na vida. Como professor, sou muitas vezes confrontado com situações de pobreza e dói-me essa pobreza material, que muitas vezes inviabiliza as aprendizagens, mas dói-me ainda mais a pobreza intelectual, o desinteresse pela formação ética e moral dos seus filhos, colocando os pais muitas vezes na escola o ónus da responsabilidade, porque é mais fácil e cómodo atirar a culpa aos educadores, “sacudindo a água do capote”, como diz o povo. No futebol jovem de competição, deverá interessar ao formador o desenvolvimento das capacidades dos atletas, o sentido colectivo, a solidariedade e a inter-ajuda, muito mais que os resultados e, não digo que estes não sejam importantes, são importantes na medida em que são o prémio justo do esforço, a recompensa de horas e horas de treino, o placebo que nos faz sentir a todos os envolvidos mais próximos da cura. E a cura é sentirmo-nos vivos…